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domingo, 14 de abril de 2013
Desigualdade em preto e branco na TV
Avanços tecnológicos no setor de televisão, rádio e telecomunicações não chegam a várias cidades do país
não chegam a várias cidades do país
Alberto Ribeiro, 58, ainda usa TV preto e branco na sua oficina de conserto de aparelhos
Foto: Hans von Manteuffel / Agência O Globo
BRASÍLIA E RECIFE — As mudanças na legislação nos setores de rádio,
TV e telecomunicações, aliadas ao avanço da convergência digital, terão
grande impacto no dia a dia dos consumidores e das empresas nos próximos
anos. Mas ainda há grandes barreiras regionais e tecnológicas para que
as mudanças cheguem ao conjunto da sociedade, pois enquanto o governo
trabalha para antecipar a universalização da TV digital no país, uma
parte da população ainda nem consegue ver a “telinha” colorida.
Até
2009, cerca de 4,7% dos domicílios brasileiros da área urbana e rural
contavam apenas com TV em preto e branco. Este percentual era ainda
maior nas regiões Norte e Nordeste. No Norte, 9,5% das residências não
tinham televisão colorida e no Piauí (NE) esse percentual chegava a
14,8%. No estudo inédito “Tudo o que você precisa saber sobre rádio e
televisão — licenças, outorgas, taxa de penetração, receitas e
receptores”, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert)
traça um panorama da radiofusão no país. O estudo revela que, nos
estados do Nordeste, por exemplo, as disparidades ainda são muito
grandes no acesso à televisão.
Do total de 107 milhões de
aparelhos de TV em funcionamento no Brasil no fim de 2012, apenas cerca
de 15%, ou 16 milhões, tinham acesso digital (com conversor embutido ou
setup box). São vendidos por ano no país cerca de 15 milhões (14%) de
aparelhos de TV. Isso significa que, sem incentivo, todos os
equipamentos só serão renovados em 2020. Embora os números revelem que
nas dez maiores regiões metropolitanas do país a TV está em 98,4% dos
lares, segundo os últimos dados da PNAD/IBGE, ela ainda não chegou a
cerca de 15% dos domicílios do Piauí, e quase 13% dos de Tocantins.
O
governo quer que até meados de 2016 a TV digital esteja totalmente
implementada nos 885 maiores municípios do país. Nestas cidades moram
cerca de cem milhões de pessoas. O acesso às novas tecnologias não é
problema em cidades com renda per capita alta, como Brasília. No sítio
onde mora nos arredores da capital, o administrador de empresas Eli
Valter Gil Filho aponta a sala de TV como seu cantinho predileto. O home
theater não tem cabos. Um único aparelho lê Blu-Ray e DVDs e comanda a
distribuição do som. Ele ainda pode ver filmes salvos em pendrives. E
pode assisti-los em 3D.
— Acompanho os lançamentos, mas tenho a
consciência de que os fabricantes têm coisas guardadas e ficam esperando
a gente comprar o que está nas lojas para mostrarem as novidades —
disse. Há poucas emissoras no país
Nas
cidades menores, o governo pretende prorrogar o prazo para a transição
do sistema analógico para o digital até 2018. O ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo, informou que está em avaliação a
possibilidade de concessão de subsídio ou mesmo doação de conversores
para que a TV analógica possa captar o sinal digital. Esses equipamentos
seriam doados para a população carente ou para as famílias cadastradas
no Bolsa Família.
As dificuldades para que esses avanços se
concretizem são muitas. Uma delas é o número de emissoras no país, muito
menor do que o seu potencial, segundo a Abert. Até o fim de 2011, o
país contava com 514 emissoras de TV licenciadas pelo Ministério das
Comunicações, sendo 311 comerciais e 203 educativas. Para a associação,
há um déficit no país de cerca de mil geradoras de televisão, que
poderiam ser instaladas em cidades menores.
Com base na receita do
setor publicitário, a estimativa dos radiodifusores é de que num
município com cem mil habitantes, por exemplo, podem funcionar duas
geradoras de TV. Para a instalação de uma emissora deste porte são
necessários cerca de R$ 2,5 milhões em investimentos. Estes
financiamentos estão disponíveis no BNDES ou no Banco do Brasil. Uma das
grandes dificuldades, porém, é que nos últimos anos não foram abertas
licitações para novas emissoras.
Em cerca de 20% das cidades
brasileiras não há estação retransmissora de televisão (RTV). Para ter
acesso à programação, a população usa antenas parabólicas. A Abert
estima que, dos 22 milhões de domicílios que têm antenas parabólicas,
dez milhões de domicílios têm apenas este recurso para acessar a TV
aberta por estarem situados em zonas rurais ou em municípios que não têm
sinal de RTV. Em 2012, havia cerca de dez mil retransmissoras e
repetidoras no país. (Colaborou Gabriela Valente)
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